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quarta-feira, 7 de julho de 2010

..:: Jukebox ::..

O ab(surdo) não h(ouve)

Para começar a falar dos "herdeiros" do tropicalismo, o primeiro nome será o de um artista impopular. Talvez o mais impopular de todos que por aqui passarão.

Sua música era um jogo de palavras, de sons, de vozes. Inquietante. Assim ganhou o rótulo de incompreensível.

Teve pouquíssimo LPs vendidos, participou de pouquíssimos shows. Foi maldito.

Em setembro de 1972, quando ganhou o VII Festival Internacional da Canção - onde ficou conhecido - seu êxito durou pouco. Foi sumariamente vaiado, e como se não bastasse, no fim, o júri que o elegeu foi demitido e sua música desclassificada.

A música era "Cabeça":

Que é que tem nessa cabeça irmão
que é que tem nessa cabeça, ou não.
Que é que tem nessa cabeça saiba irmão
que é que tem nessa cabeça saiba ou não.
Que é que tem nessa cabeça saiba que ela não pode irmão
que é que tem nessa cabeça saiba que ela pode ou não.
Que é que tem nessa cabeça saiba que ela pode explodir irmão
.

O compositor: Walter Franco.




Durante as vaias da platéia, Walter manteve-se absurdamente calmo. Continuou como quem se abstrai em um transe particular.

A calma de Walter Franco veio depois se tornar também uma de suas marcas. O homem zen, em busca da verdade, do equilíbrio, da harmonia. O artista budista.

Mas nada disso foi o bastante para que ele se popularizasse, seus dois LPs, um de 1972, "Ou não", foi o primeiro e principal choque. A capa do disco é completamente branca, a não ser por uma mosca que aparece no canto. O outro de 1976 "Revolver", Walter Franco, vestido uma roupa branca, atravessa uma rua, como os Beatles em “Abbey Road".

Nenhum dos dois alcançou sucesso. No entanto, era perceptível que um artista diferenciado estava em cena. Era o lado B se consolidando, mesmo sob forte resistência.

Em 1978, lançou "Respire Fundo" ai, a coisa começou a mudar um pouco. Walter Franco já era conhecido, já tinha seu perfil de músico ousado - e maldito - fincado dentro da música popular brasileira. Um pós-tropicalista autêntico.

Passou a fazer algum sucesso desde então.

Em 1980 lançou “Vela Aberta” e em 1982 “Walter Franco”. Por fim, em 2001 “Tutano”.

Foi um artista que durante toda a sua carreira esteve à margem das gravadoras, do grande público e da imprensa. Uma boa explicação para isso só pode ser o fato de que Walter Franco trouxe ao cenário musical brasileiro, um estilo diferente. Uma nova estética da qual as pessoas (ao que tudo indica) não estavam prontas para compreender.