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terça-feira, 15 de junho de 2010

..:: Jukebox ::..


Parangolé, de Hélio Oiticica

A boa música velha

Falar de música "velha" é tão atual quanto falar da música contemporânea se entendermos as muitas influências que existem no nosso processo histórico cultural.

Um dos principais movimentos de renovação na linguagem da música brasileira foi o Tropicalismo, movimento de vanguarda que trouxe ao país uma nova forma de fazer música. Mais livre, mais experimental e que pôde contar com diferentes elementos da arte, como a literatura, as artes plásticas, o teatro e o cinema. Todos em um só diálogo: o da renovação estética na cultura brasileira.

É importante lembrar que o Brasil, durante a década de 1960, tinha um discurso nacionalista, a guitarra elétrica, por exemplo, era um elemento que a cena artística da época queria evitar, de modo a fazer uma arte mais tradicional.

O Tropicalismo chegou para romper com esses padrões estéticos. A idéia era trazer ao Brasil um cenário mais complexo, com uma junção de aspectos artísticos que demonstrassem as diferentes faces da nossa cultura, então renegada. E, principalmente, a liberdade de criar.

Apesar de intenso, o Tropicalismo teve vida curta, apenas um ano, de 1967 a 1968, no entanto, deixou marcas perceptíveis nos dias de hoje.

Os primeiros indícios dessas marcas foram mais sintomáticas durante a década de 1970, quando surgiram os “herdeiros" do tropicalismo: artistas que traziam em suas obras um caráter mais experimental.

Assim, surgiram alguns nomes que, pela primeira vez na história da música popular brasileira, puderam misturar diferentes elementos em um só.

Na construção da música seja ela mais ou menos atual, existe um conjunto de aspectos que a definem, e esta coluna tem como objetivo discorrer sobre essa questão, mais precisamente, sobre o pós-tropicalismo, ou seja, o cenário musical de 1970 em diante.

Começa semana que vem. Fiquem ligados.
..:: Cardápio ::..

Hoje é dia de literatura no Café do Bira...

...E já que o assunto do momento é Copa do Mundo na África, vamos viajar pelo Continente também.


Estamos acostumados a ver o continente africano como um lugar selvagem: animais ferozes e povos que nos remetem aos hábitos mais primitivos do planeta.

Muito do que se ouve, ou do que é mostrado da África, contribui para que tenhamos uma imagem hostil. A maioria das abordagens nos levam a guerras civis, catástrofes, epidemias e exploração. As imagens e as historias, tratam a África com um lugar de migalhas. Em resumo: um lugar desumano.

A África, entretanto, não está a margem de sua própria graça e beleza de existir. Se há algo que foi tirado do continente, foi apenas sua verdadeira identidade. Sua cultura pode parecer esquecida ou condicionada ao imaginário... Mas não é.

A África está além da História que a denegriu, e tornou-se mítica.

Mesmo quando há guerra ou quando a política castiga, existe um povo que caminha levando consigo seu espírito e as raízes ancestrais da África, por ela mesma.

É nessa linha que Mia Couto traz ao mundo um outro olhar sobre o continente, ou uma parte dele.

Mia Couto, hoje, é o nome mais conhecido da literatura africana. Suas histórias trazem um pouco da cultura de Moçambique. Filho de imigrantes portugueses que foram morar em Beira, Antônio Emílio Leite Couto é um autor de muitas facetas, poeta, escritor, contador de histórias.

Tal qual Guimarães Rosa, Mia Couto passeia pela incansável criação de neologismos, e mostra sua proximidade com o autor deGrande Sertão: Veredas, fala da terra.

Sua literatura também remete a outro grande escritor: Gabriel Garcia Márquez, pois assim como ele, trafega pelo realismo fantástico.

Assim é a sua obra: a viagem a África que faltava, a fantasia arraigada às verdadeiras raízes da região. Uma amostra de dentro dela mesma, em que uma possível sujeição à política é a estrangeira na terra mãe.

Escreveu diversos livros. Mantendo o português falado em Moçambique e com a criação de palavras, concebe seus retalhos e é impossível não se envolver na construção de sua prosa, onde a África está viva, pulsa. Resiste, sobrevive.

Alguns de seus livros:

Vozes Anoitecidas
A Varanda do Frangipani
O Gato e o Escuro
Mar me quer
Vinte e Zinco
Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra
Contos do Nascer da Terra
Cada Homem é uma Raça
O Último Voo do Flamingo
Terra Sonâmbula
Estórias Abensonhadas
..:: Cardápio ::..

Opção de leitura no Cardápio do Bira.


Imagine o seguinte: Você liga o rádio e ouve uma música com a seguinte letra:

Lá vem ela chorando
o que é que ela quer?
Pancanda não é, já dei.
(Alvarenga e Benedito Lacerda, 1932)

Seria, no mínimo, absurdo?

Não se vivêssemos nos anos 30, ou nos 40, 50...

Imaginem, até meados da década de 1960, noventa e nove por cento das composições eram feitas por homens.

Isso refletia o modo de viver das pessoas e as relações entre homem e mulher. As canções influenciavam e eram influenciadas pelo comportamento da época.

Outro exemplo:

Quero uma mulher que saiba lavar e cozinhar
E de manhã cedo me acorde na hora de trabalhar
Só existe uma e sem ela eu não vivo em paz
Emília, Emília, Emília... não posso mais
(Nelson Batista e Haroldo Lobo, 1941)

Perto disso Amélia é bobagem!

Não deve ter sido fácil ser mulher nesse tempo... Mulher não tinha vez, não tinha voz. Não podia nada. É a velha história: dona de casa, mãe e só!
Mas mais curioso ainda é que na época, era realmente comum a pancadaria dentro do doce lar: Bater, para os homens, era um meio de mostrar respeito e, veja só, carinho pela mulher. Já para a que apanhava, levar umas era sinal de que o amor estava no ar...

Veja essa música gravada pela Carmem Miranda:

Vivo feliz, no meu canto/ sossegada/ Tenho amor, tenho carinho, oi/ Tenho tudo até pancada.
(André Filho, 1932)

Pois é...

Hoje existe a Lei Maria da Penha e inúmeras polítcas públicas de apoio a mulher. A revolução do sexo alcançou espaços antes inimagináveis e a mulher conquistou seu lugar ao Sol. No entanto, isso é muito recente e nem sempre as coisas foram assim - na verdade, nunca foram!

Achou estranho? Ficou curioso? Então saiba mais sobre as transformações que ocorreram na história da mulher na sociedade brasileira lendo o livro História sexual da MPB de Rodrigo Faour.

O livro é polêmico e vale muito a pena! Apresenta todo o processo de renovação e revolução da sexualidade no Brasil por meio da música. Desde os cancioneiros do século XIX até a funk carioca atual!

..:: Prato do Dia ::..

Bira me levou a uma mesa cheia de pessoas diferentes. Uns ligados ao cinema, outros às artes, músicos e tudo mais. Sentei-me à mesa e começamos a confabular. O senhor que me apresentara olhava tudo de longe, com seu copo de uísque, rindo com um rosto orgulhoso.

Os garçons passavam, deixavam aperitivos, taças de chopp, rodeavam as mesas e participavam das conversas.

Um garoto com menos de vinte anos, alto, com algumas espinhas no rosto e roupas esportivas comentava de um show que veria nessa semana.

Era o show da banda Capital Inicial, nascida em Brasília depois da separação da banda Aborto Elétrico, que fará um show no sábado (19) no Credicard Hall, situado na Avenida das Nações Unidas, número 17.955, no bairro da Vila Madalena. Segundo o jovem, o show marca o lançamento do novo cd “Das Kapital”, o primeiro após 3 anos sem lançar inéditas. Ele ainda afirmou que os ingressos vão de R$ 50,00 a R$ 140,00, mas conseguirá pagar metade dos preços apresentando sua carteira de estudante.

Nisso, um homem de terno, óculos fundo de garrafa e cabelos brancos levantou a mão para obter a palavra.

Em sua outra mão tinha um cartaz que dizia sobre um concerto de música clássica, que ocorre na Sala São Paulo, praça Júlio Prestes, 16, por preços que variam entre R$ 18,00 e R$ 61,00 . O concerto esta sob regência do dinamarquês Thomas Dausgaard, acompanhado pela Orquestra Sinfônica de São Paulo, apresentando músicas de Mozart e Mahler.

Já a garota da mesa, moderna e com trajes alternativos, comentava sobre uma exposição da artista Luise Weiss, chamada “Passagens e memórias”.

A garota explica que a ideia da mulher é mostrar como a vida é breve, mostrando imagens, fotos, pinturas e gravuras sobre viajantes e imigrantes. A exposição está no Masp (Avenida Paulista, 1.578) no bairro da Bela Vista. A mostra esta aberta às terças, quartas, sextas e domingos, até o dia 18/06, com entrada por R$ 15,00 e funciona das 11h. às 17h.

O homem de roupa negra e cabelos longos interrompeu a garota e começou a falar sobre seu lugar preferido. Era um bar situado em Moema, na Alameda dos Maracatins, 1.317. Nesse lugar, segundo seu relato, tocam várias bandas que mostram as raízes do rock and roll. Com uma decoração sombria e ótima para os que curtem um heavy metal, o bar tem variedades em porções e comidas. A entrada é variável, mas costuma estar entre R$10,00 e R$20,00.

No último canto da mesa, o moço um pouco acima do peso com um ar intelectual começou a falar sobre cinema.

Uma de suas dicas é um dos filmes que está em cartaz em todos os cinemas de São Paulo. O filme é o remake do diretor Tim Burton para o clássico de Lewis Carrol, Alice no País das Maravilhas. Com um forte elenco e um bom roteiro, o filme conta a história de uma jovem que foge de um casamento arranjado e cai na toca de um coelho, onde descobre um mundo mágico e completamente diferente do que está habituada.



Encantado, e um pouco perplexo por não ter o que acrescentar a essa conversa, levantei da mesa e fui ao encontro de Bira. Contei a ele tudo que tinha ouvido. O homem me olhou ao fundo dos olhos e riu, como se eu fosse apenas um garoto que acabou de descobrir o mundo.

Talvez ele esteja certo. Peguei minhas coisas, levantei-me e me dirigi à saída do bar. Olhei para o outdoor do bar e tive apenas uma certeza: Voltarei amanhã!