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quarta-feira, 28 de julho de 2010

..::Jukebox::..

Dando seguimento a coluna sobre os "herdeiros do tropicalismo" o nome de hoje é o de um artista bastante peculiar:

Jards Macalé.


Macalé levou a bandeira da canção popular um passo a frente na história da música brasileira, libertando-se do estigma de "baiano tropicalista" para Macalé, carioca da gema.

Bem humorado, ou melhor, engraçadíssimo, soube usar essa habilidade, o que sempre deu a ele um algo a mais... Mas não vou me demorar nas descrições, vou direto ao ponto e falar de um dos seus melhores discos: Contrastes, de 1977.

A faixa título é uma releitura da composição original de Ismael Silva, tão satírica quanto àquele que a regravou:

Existe muita tristeza na rua da alegria
Existe muita discórida na rua da harmonia
Analisando essa história,
Cada vez mais me embaraço
Quanto mais fujo do circo, mais eu encontro palhaço


O disco contrastes mescla diferentes gêneros: reggae (Negra Melodia), choro (Choro do Arcanjo), valsa (Poema da Rosa), marchinha (Passarinho do Relógio), etc etc etc.

Tem ainda um blues, a faixa "Black and Blue", onde Macalé caricatura com excelência Louis Armstrong, e em "Sim ou Não", com o acompanhamento de Jackson do Pandeiro (!), traz toda a malícia do xote.

A faixa que se destaca é o samba de breque "Conto do Pintor", composição de Moreira da Silva e Miguel Gustavo, nela, Jards Macalé destaca seu senso de humor com interpretações incríveis, e recria o cenário com Sérgio Chapelin, Sérgio Dourado e o "Maioral", para não dizer qualquer nome do governo brasileiro (afinal, o Brasil vivia a ditadura militar...)

Um dos melhores discos já produzidos. Jards Macalé soube dar um toque pessoal e tropical às canções antigas, seus experimentalismos trouxeram a tona todo o desconcerto que a nova música brasileira estava descobrindo. Teve papel fundamental na liberdade de criar utilizando recursos sonoros muito variados e originais.

O disco ainda tem a faixa "Cachorro Babucho" composição de Walter Franco.